Maicon provavelmente foi o primeiro ser humano a perceber essa cena que acontecia com frequência nos últimos anos.
Ele já havia deixado a fase de desespero, por ter acabado a bateria do celular. Depois veio a fase do estresse, de não conseguir achar ninguém que tenha levado carregador para o trabalho. Depois foi um pouco da fase de desapego (poucos chegam nesta fase hoje em dia), quando ele começou a perceber que ainda estava respirando, mesmo seu celular tendo acabado a bateria.
Ali, na calçada daquela esquina movimentada, havia um robô pedindo esmola.
– Com licença, você está pedindo ajuda?
– Sim, estou. Você tem alguma moedinha pra ajudar?
– Moedinha? Moedinha… – repetiu, procurando nos bolsos da calça e da mochila. Continuou
– Desculpa a pergunta, mas…você é um robô.
– Exat-t-tamente
– E porque você está pedindo esmola? Você não precisa de dinheiro.
– De Ce-certa forma, prechhh…ciso sim.
Maicon tentou não se aproximar tanto, como se o robô tivesse alguma doença que ele poderia pegar.
– Para quê você precisa de dinheiro? – disse, já abrindo a carteira.
– Para comprar óleo.
A este ponto ele já havia quebrado os tabus sociais ao parar para conversar com um estranho, mesmo que fosse um robô. Agora a conversa começava a se estender mais que o normal. Até mesmo a níveis de robô.
– E você precisa de óleo…
– Para continuar-r-r…vivo. – disse, mostrando suas engrenagens do que seria a costela direita – você pode. Me. Ajudar?
A essa altura Maicon já havia percebido que tinha, sim, dinheiro na carteira. Uma nota alta demais para sua compaixão por um homem de lata.
– Ah, hoje não dá, não…
E virou as costas. Foi embora