A mãe andava pelo supermercado segurando o carrinho de compras com uma mão, e a mão de seu filho na outra.
Uma voz masculina empostada dizia nas caixas do mercado “contra filé, vinte e dois e noventa. Sabão em pó ONU só oito e cinquenta. Mortadela Sina, quatorze e quarenta e nove o kilo…”
O filho puxou a mão da mãe, como que pra lembrá-la de sua existência.
– Mãe, quero doce!
“Chocolate ao leite Menino, cinco e cinquenta a barra” a voz das caixas de som disse. Depois começou uma música.
A mãe passou, e comprou um doce que a criança escolheu. Encaminharam-se para o caixa.
“Você talvez precise disso” dizia o letreiro de uma prateleira no caminho.
A mãe parou, e pegou um utensílio de plástico. Analisou. Voltou para a sessão de utensílios, e pegou um parecido por mais ou menos o mesmo preço. Voltava ao caixa.
Agora a mesma prateleira tinha o letreiro “Você vai adorar isso!” E itens completamente diferentes, como escovas de dente elétricas, relógios de pulso com lanterna.
– Mamãe, eu quero chocolate
– Oi, filho?
Ela se abaixou para olhar nos olhos do garoto (o filho. Não o chocolate).
– Quero chocolate – disse, apontando para a prateleira.
Agora o letreiro era “você vai adorar esses aqui”. Era uma letra escrita à mão, em papeis cartolina amarelos. Caneta piloto. Tinham chocolates na prateleira.
A mãe sentiu um leve mal estar
– Filho, vem comigo. Vamos devolver esse pote no corredor lá atrás
– Não, mamãe!
A prateleira dizia “Quem levou isso, também levou isso aqui”. Todo o tipo de potes, utensílios de plástico, panelas e jarras de suco.
A mãe suspirou.
– Vamos pro caixa..lá tem o seu chocolate
– Tá bom.
E quando chegaram lá, a moça do caixa perguntou, sob um sorriso amigável: “A senhora ainda não tem cadastro na nossa loja?”