O telefone de Carlos tocou. E tocou e tocou. Ele atendeu.
– Alô?
– Alô, é o Marcio?
– Marcio? Não..aqui não tem nenhum Márcio
– Quem ta falando?
– Carlos. Acho que é engano
– É, que esse número ta marcado aqui como o do Márcio
– Mas não é não, senhor
– Desculpa, então
– Ah, tudo bem
– Tchau
– Hum..tchau
Na mesa do lado, Matheus achou melhor não comentar nada. Reconsiderou e cutucou Carlos.
– Tudo bem, cara?
– Tudo.
– Você tava mandando mensagem pra alguém?
– Não, não. É que me ligaram. Mas era engano.
Matheus achou melhor não contrariar. Reconsiderou.
– Cara, não é a primeira vez que acontece, e o pessoal do escritório já percebeu…se você quiser parar um pouco, esticar as pernas, sei lá…fica tranquilo
– Não, foi só uma ligação aqui. Era engano.
– Não, Carlos. Ninguém te ligou, não.
– Ligou sim. Queria falar com um tal de Márcio.
– Tá no silencioso?
– Não tá, aqui olha… Ô Rafa, não tocou aqui, agora a pouco?
Rafa subiu o olhar por sobre a baia de frente a de Carlos.
– Não tocou não, cara.
Olhou no registro de chamadas, e não havia ligação nenhuma.
Carlos viveu cerca de sessenta anos depois deste ocorrido, passando sequer um dia sem pensar nas coisas que aconteciam só pra ele e mais ninguém.