Uma das primeiras vezes que reagi rápido a uma situação de emergência foi quando aconteceu um acidente de carro aqui na frente de onde eu trabalho. Talvez minha reação foi rápida porque agora eu já sabia o que fazer caso alguém saísse voando de dentro do carro por ter batido num poste, ou algo assim.
E foi isso o que aconteceu. Não, ninguém saiu voando de carro nenhum. Mas uma senhora bateu no poste. Sozinha. Não saiu voando pára brisa afora porque estava usando cinto, e o airbag foi acionado. Mas pelo visto, ela também estava usando celular no momento, o que foi o motivo de ter batido no poste.
Primeiro a energia caiu. Vi da janela o poste envergando pra frente, e voltando. Olhei pela outra janela, pra me certificar de que o prédio não estava sendo deslocado, sei lá, por um monstro japonês. Não era. Era só o poste mesmo.
Minha reação foi precisa. Levantei e corri até a janela. Esperava ver dois carros batidos, talvez uma moto, pessoas chorando e explosão. A cena que vi foi a senhora saindo do carro, com ajuda de alguns moços que andavam na rua. A zeladora do prédio da frente trazia, cordialmente, uma cadeira e um copo de água com açúcar.
Não precisei verificar batimento cardíaco de ninguém, nem sujar meu uniforme do sangue de ninguém. Minha sexta-feira continuaria normalmente. Exceto pelo fato de que ficamos sem energia por umas duas horas.
Ficou tudo bem. Não veio polícia, nem ambulância. Algum parente ou conhecido levou a senhora pro hospital. O guincho levou o carro em perda total. Quem não veio foi a empresa de energia.
Na verdade veio sim. Dois rapazes. Um ficou no caminhão enquanto outro desceu, coçou a cabeça, conversou alguma coisa com o primeiro, sacou o iPhone e tirou algumas fotos. Alguém perguntou, ele disse que a energia voltava em alguns minutos, e voltou.
Mas e o poste, seu moço?
Ela quem tem que pagar
Depois foi embora. E ficou por isso mesmo. Quando eu quase reagi rápido a qualquer coisa que a vida pedisse de mim, a empresa de força ligou o #sextou e, pelo menos até a edição deste conto, mais de três meses depois do ocorrido, o poste está deslocado dois metros para a esquerda, sustentado pelos cabos de aço e um pedaço de madeira.