Ela entra na sala como quem, descaradamente, quer alguma coisa.
– Pedro, você precisa me escrever
– Você aqui, de novo? Sai da minha sala
– Não, por fav..
– Sai da minha sala agora!
– Você precisa me escutar.
– Eu não vou falar com você
– Mas eu estou na sua cabeça
Que história é essa?, eu penso
– Eu já tentei conversar com você antes, mas você está sempre ocup…
– Eu sei. Eu já tentei, tá bom? Mas não dá pra te escrever. Não tem como. Não precisa nem tentar voltar aqui. Saia por favor…
– Você fala isso agora, mas quando eu for uma história de sucesso, você vai se arrepender de ter me rejeitado, tá me ouvindo?!
– Não. Calma. Não, espera… Não chora.
– Você só dá valor pras outras ideias
– Olha, eu já tentei. Fiquei dias pensando em você. Para. Não é nada pessoal. Mas é que você não tem pés nem cabeça, entende? Como eu vou te dar vida, e um corpo…toma aqui um lenço.
– Só me escreva! eu nunca pedi nada de você. Eu ainda nem existo – chora mais, alto.
– Toma aqui, seca essas lágrimas. Calma! Não chora! Não…
– Eu sou mesmo imprestável. Ninguém vai querer me ler.
– Não é assim. Olha, eu vou te escrever.
– Vai mesmo? – simplesmente para de chorar.
– Vou. Você pode ser uma crônica
– Crônica? Queria ser um romance
– Romance não dá. Pode ser um conto?
– Um conto não!
– Você duraria trezentas páginas? Eu acho que não.
– E você não vai durar o primeiro romance, seu escritorzinho de mer..
– Cala a boca! Eu posso te apagar agora mesmo, pra sempre.
Silêncio.
– Tudo bem, posso ser um conto. – vislumbra a ideia
– Duas páginas
– Duas páginas é conto, Pedro?
– Pra você, sim
– Idiota
– Quer virar uma crônica?
– Você sabe que eu mereço muito mais que…
– Pronto. Você virou um diálogo
– Vai se ferrar, Pedro…
– …